Eis-vos
aqui perante o Jardim dos Homens
terra
de semblante límpido e agreste onde
verde
e azul se confundem num eterno abraço.
Nas
suas areias brancas deposita-se a espuma
alva
de onde retiras o teu sustento. Das planícies
ora
de verde, ora de oiro colhes o teu pão.
Das
montanhas bravias retiras o teu leite.
Das
tuas flores silvestres colhes o mel – afinal o
Jardim
dos Homens também é terra de leite e de mel.
Olho
o teu céu azul claro intercalado de nuvens
imaculadas
de brancura que me indicam a direção do mar.
E
assim o homens seguiram esses tortuosos caminhos
em
pequenas embarcações seguindo rumos indefinidos
em
peregrinações infindáveis, muitas vezes sem
regresso.
Pelas montanhas saiam montados em
jumentos
mesclados de cinza ou preto, branco ou castanho
em
direção oposta. Os mais afortunados passavam,
os
outros… enfim os outros, aqueles que nunca
chegaram
ao destino, foram esquecidos pelo tempo
mas
lembrados pelo negro das viúvas e das mães
que
perderam todas as lágrimas numa saudade
como
só nós podemos sentir e pronunciar.
O
fado, o eterno fado. E assim continuamos
a
lamentar-nos desta terra, deste Jardim
dos
Homens, cruzando os braços, mas abrindo-os em
terras
alheias, colhendo riqueza que nunca será nossa.
Lembremos
os tortuosos caminhos que percorremos
até
chegarmos aqui, num passado de glória, agora de
presente
triste e desconfiado, futuro incerto.
Mas
o Jardim dos Homens teve algo muito especial,
as
pessoas afáveis que nele habitavam
e
que se perderam por ação do tempo.
Era
lugar de solidariedade e de sorriso aberto,
era
lugar de pão e vinho sobre a mesa – apesar
desses
tempos também serem de má memória.
O
contraste não podia ser pior, perdeu-se a
solidariedade,
o sorriso fechou-se, sobre a mesa
há
lamentos doridos e amargos de quem não
tem
pão. Mas homens e mulheres do Jardim
dos
Homens afinal de que massa somos feitos?
De
que aço somos temperados? Pertencemos a um
grupo
restrito habituado a não olhar as adversidades
como
uma fatalidade, somos temperados pelo sol
rude
que nos abrasa e pela chuva que nos dá a
dureza,
mas, ao mesmo tempo, dá-nos a flexibilidade
de
quando cairmos nos voltarmos a erguer. Então
erguei-vos
Povo e vamos mostrar ao mundo
que
há um Jardim dos Homens onde ninguém
se
resigna ao fatalismo perpétuo da história.
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