Sentado debaixo de um frondoso
castanheiro
aspiro o perfume neste campo onde
o milho
eclode em verde mar formando um
oceano
que forma pequenas ondas que
ondulam
com a brisa, olho as vides que
ladeiam
os muros subindo por estacas de
pedra rude e velha
e mostram os primeiros rebentos
dos cachos
no emaranhado da folhagem que
cobre o tosco tronco.
O cheiro entranhado na terra
revitaliza-me o sangue,
alimenta-me para o tempo de
exílio forçado.
Ouço o barulho das águas que
correm rápidas
na ribeira que vai alimentar o
grande rio.
Águas límpidas onde trutas,
bordalos e bogas
lutam contra a força da torrente
de forma heroica,
de cabeça virada para a
nascente, parecendo deitadas
em cima das pedras polidas que
enxamam o fundo
pedregoso, ao lado o cheiro a
hortelã perfuma o ar.
Os melros enchem os ares com os
seus cantos,
as andorinhas passam rasantes
levando o bico a aspirar
as águas e os insetos. A tarde
vai fria, - sabe-me bem sentir
o frio – esfrego as mãos e
passo-as pelos braços,
uma sensação momentânea de
calor invade-me
o peito, afago em seguida as
pernas e a face, quero
guardar aquelas sensações para
sempre, (nunca sei
quando voltarei àquele lugar),
passa um pequeno
coelho. Esqueci a palavra láparo,
assim como
esqueci tantas outras que a pouco
e pouco foram
desaparecendo do nosso léxico, e
eram palavras
bonitas. (Tenho saudade desses
termos antigos,
possivelmente tenho saudades da
minha juventude).
Tenho de partir, deixar a solidão
que me faz pensar,
recordo o passado, olho para o
presente e não consigo
projetar o futuro. Falta de
esperança? Talvez.
Assim, sem fé, rezo aos
elementos que me traga
a capacidade perdida de sonhar,
para voltar a olhar
para amanhã com a mesma
confiança de antigamente.
Não é o medo de envelhecer, não
é o pavor da morte,
é um peso enorme que trago
comigo, uma amargura
que me magoa, o ter de abandonar
algo que amo.
Dá-me neste meu Minho que me
adotou
e recebeu de braços abertos
aquilo que preciso,
paz interior e uma vida que se
vai desfazendo
quando deveria descansar e
esperar que os dias
passassem tranquilos sentado
neste verde a ouvir
o barulho deste ribeiro e sonhar
com o futuro,
porque mesmo os mais velhos podem
sonhar.