domingo, 10 de dezembro de 2017

Ignorância

Às vezes penso que nada gostaria de saber,
não pensar o mundo, não conhecer os homens,
não ler livros, não escrever, seria mais feliz,
não teria sobressaltos nem pensamentos estranhos
de vida e de morte, ser como os loucos sem ser louco
olhar o mundo e nada ver para além do que é mundo,
não procurar o significado das coisas, o porquê
daquela água passar por ali e não mais ao lado,
como aquela flor nasceu ali e não noutro lugar
qualquer onde nascem outras flores. Gostaria
de não conhecer a beleza da arte, essa doce
tirania que se impõe com insistência no meu
espírito, me deslumbra e me cega tornando
o mundo mais belo mas mais complexo
tornando-se essa obsessão numa metáfora
egocêntrica e ao mesmo tempo me prende
sob um manto diáfano por onde passa uma luz
ténue e bela, e me deixa ver que de mais nada
preciso a não ser do teu amor. Gostaria de não conhecer
as letras, de não as saber juntar, transformando-as em palavras,
frases, textos, assim essa beleza não me oprimia
nem dominava os meus dias. Sem eu saber a arte continuava
arte, a beleza manter-se-ia bela, a natureza deslumbrante
e a vida continuaria, porque afinal quem sou eu neste
infinito tempo no meio de tanta gente? Um minúsculo grão
numa engrenagem complexa que ainda ninguém decifrou.

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