Às
vezes penso que nada gostaria de saber,
não
pensar o mundo, não conhecer os homens,
não
ler livros, não escrever, seria mais feliz,
não
teria sobressaltos nem pensamentos estranhos
de
vida e de morte, ser como os loucos sem ser louco
olhar
o mundo e nada ver para além do que é mundo,
não
procurar o significado das coisas, o porquê
daquela
água passar por ali e não mais ao lado,
como
aquela flor nasceu ali e não noutro lugar
qualquer
onde nascem outras flores. Gostaria
de
não conhecer a beleza da arte, essa doce
tirania
que se impõe com insistência no meu
espírito,
me deslumbra e me cega tornando
o
mundo mais belo mas mais complexo
tornando-se
essa obsessão numa metáfora
egocêntrica
e ao mesmo tempo me prende
sob
um manto diáfano por onde passa uma luz
ténue
e bela, e me deixa ver que de mais nada
preciso
a não ser do teu amor. Gostaria de não conhecer
as
letras, de não as saber juntar, transformando-as em palavras,
frases,
textos, assim essa beleza não me oprimia
nem
dominava os meus dias. Sem eu saber a arte continuava
arte,
a beleza manter-se-ia bela, a natureza deslumbrante
e
a vida continuaria, porque afinal quem sou eu neste
infinito
tempo no meio de tanta gente? Um minúsculo grão
numa
engrenagem complexa que ainda ninguém decifrou.
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